Geralmente fazemos viagens planejando conhecer os grandes centros turísticos. Só vai pro "interior" turista que tem tempo sobrando, ou que já conheceu o be-a-bá, ou que faz turismo diferente, que prefere fugir das cidades maiores.
Mas depois que se conhece a riqueza que há para além das cidades maiores e mais famosas, nunca mais os planos de viagem são os mesmos. Ouso dizer que, pra mim, os mais surpreendentes momentos foram vividos naquelas cidadezinhas de no máximo 20.000 habitantes, aquelas que não são a primeira opção, mas que depois povoam nossos sonhos pra sempre.
Eu poderia enumerar dezenas delas, mas fico com aquelas que mais tocaram meu coração. Cidades muito miudinhas, muito lindinhas, muito únicas, muito autênticas, porque se tem uma coisa que uma cidade isolada, minúscula, de pouquíssimos habitantes, encravada no alto de uma montanha tem, é autenticidade. Então aí está a minha lista:
Piódão
Essa faz parte das chamadas "aldeias de Portugal", tem em torno de 200 habitantes e para chegar nela, partindo da rota do vinho verde pelas marges do Douro, no norte de Portugal, há de se subir a Serra do Açor. Piódão não era pra existir, essa é a impressão que primeiro assoma o turista. Ela fica até hoje isolada, encrustada na terra pedregosa e é todinha composta de casinhas feitas de xisto, uma pedra escura que lembra a ardósia, de janelas azuis, tendo algumas construções, como a igreja, caiadas de branco. Um riozinho a corta, vindo quieto correndo pelo silêncio do vilarejo. Piódão é antiquíssima, tanto que possui, em um terreno aberto à visitação, material arqueológico, que são no caso uns pezinhos desenhados na pedra do chão, que demarcavam os sítios onde cada família de camponês cultivava seu trigo, ou cevada. Com a mecanização, a cidade foi esvaziada, as famílias de camponeses forçadas a urbanizarem-se e a cidade quase acabou, por abandono. Sobrevive porque é tão incrível que virou ponto turístico. Há ali, além da cidade que já merece a viagem, uma estação de esqui que movimenta a região no inverno. No Piódão também se produz queijo de ovelha, delicioso, e mel de urze, forte, pra quem realmente ama mel (como eu).
Toledo
É um bate e volta obrigatório de Madri. Uma cidade medieval construída desde o século III a. C., possui um conjunto arquitetônico impressionante, cheio de igrejas/fortalezas construídas ao longo dos séculos. Toledo tem uma riquíssima história de conflitos, de riqueza, de decadência, e está tudo ali, nas paredes das construções. E lá viveu Cervantes, o do Don Quixote :)
E, além de toda a beleza e história, Toledo tem codornices, um prato típico feito de codornas, com um molho...uhn... um sabor que deixa a cidade mais linda ainda.
De Madri, vá de ônibus, são uns 45 minutos.
Rothenburg ob der Tauber
É claro que eu ainda vou fazer um post sobre a rota romântica da Bavária, mas por enquanto limito-me a falar dessa jóia linda, cidade medieval emuralhada e completamente bem cuidada, ajardinada, florida, limpa e organizada, de nome comprido e difícil de falar. Rothenburg é parada obrigatória da rota e vale a pena dormir por lá (como fizemos). Vale inclusive ficar na guest house que ficamos (Rödertor), com quartos super confortáveis, café da manhã delicioso e com um dos melhores restaurantes familiares da cidade. Rothenburg ainda é rodeada por lindos campos de vinhas, uma igreja do século
Tiradentes
Eu nunca vou parar de me surpreender com a rica história do Brasil guardada nas cidades históricas de Minas Gerais. Tiradentes foi uma descoberta e me deixou completamente apaixonada. A cidade é muito linda, talvez a mais linda cidade histórica que já visitei, completamente preservada, com casarios bem cuidados, com janelas de folhas, coloridas, floridas, paredes caiadinhas de branco, ruas de pedras amarelas que contrastam com o céu azul e a moldura da Serra da Canastra que circunda a cidade. Pra melhorar, tem uma culinária de exterminar qualquer projeto verão, mas que vale cada caloria. A cidade ainda surpreende com igrejas belíssimas, do barroco brasileiro, museus muito bem organizados, praças e parques, monumentos e várias galerias de arte e lojas de móveis, tudo com tanto, mas tanto charme, que você começa a ter dificuldade de viver em algum outro lugar que não ali, em meio a tanta beleza e cuidado. Tiradentes é mineira, é brasileira, e é um tesouro.
Brugges
Brugges é linda de doer. E tem chocolate, batata frita e cerveja pros mais exigentes, ou seja, esses três itens ali são levados mais a sério do que você deve estar acostumado. E é linda, de doer. (já falei?), parece saída de um conto de fadas, cada esquina tem uma obra arquitetônica mais espetacular que a outra, circundando o rio, a praça, pontes antigas, torres, parques, mosteiros, igrejas... É linda, dói de tão linda (falei isso já?). E Brugges ainda tem o descaramento de ter charretes, moinhos em um campo verde ao lado do rio. Foi lá que tomei a melhor cerveja da minha vida, numa cervejaria minúscula e artesanal que só vende dois tipos de cerveja, ambas feitas "na cozinha", e nada mais. O nome: De Garre.
Óbidos
Fica do ladinho de Lisboa e é lindíssima, A cidade medieval, totalmente conservada dentro das muralhas altas, é composta de ruelas de pedras e casinhas caiadas brancas com janelas azuis. De onde quer que esteja é possível ver a muralha, enorme, onde se pode caminhar (sensação de guerreiro medieval muito legal!). A cidade fica coladinha em Lisboa e ao lado do mar, o que dá a ela um clima único, uma mistura de cidade pra passear de chinelinho mas cheia de história. Óbidos é pensada pra fazer a gente feliz. É toda linda, florida, e tem cada doceria... Fora os bacalhaus e frutos do mar que se come nas esplanadas dos restaurantes que ficam super disputados de turistas na hora do almoço. É um bate e volta obrigatório e imperdível.
San Gimignano
Difícil falar dessa pequena. A cidade fica coladinha em Firenze (bate e volta facílimo, de ônibus, passando por Poggibonsi), que pra mim é a cidade mais linda do mundo, na zona rural, em meio às colinas ondulantes da Toscana, rodeada por plantações de oliveiras e de parreiras. É conhecida como a cidade das 13 torres, porque tem 13 construções/fortalezas erguidas ao longo da história da cidadela medieval. As igrejas são fantásticas, assim como as galerias de arte. Há ainda cisternas, ruelas emuralhadas, parques e muita, muita história. E, por fim mas não menos importante, lá encontram-se lojinhas e restaurantes pra se beber o delicioso Chianti, acompanhado de uma legítima massa.
Santa Teresa
Essa é capixabinha e é meu xodó. Porque tem um clima gostoso, porque é a cidade que tem a maior área de mata atlântica preservada no Brasil, com várias trilhas e parques lindos, porque tem um conjunto de casarios antigos conservado raro de se ver no Estado do Espírito Santo, que demoliu sua história :(, porque tem história, é a cidade de colonização italiana mais antiga do Brasil, porque está se esforçando, ano após ano, por trazer um turismo de alto nível, com eventos fantásticos como o festival de Jazz, e porque tem uma gastronomia diferenciada, com mais bons restaurantes per capta que (creio eu) todas as demais cidades do interior do Estado reunidas. Destaque, nesse quesito, pra uma das causas das nossas idas tão constantes a esse linda cidadezinha, o Café Haus, sempre totalmente impecável. Lá você come com os olhos, mas se surpreende com o sabor. Já fui diversas vezes e o padrão é sempre o mesmo, excelente. Além disso, a chef Kamila Zamprogno não cansa de trazer novidades campeãs de audiência para o cardápio. Café Haus sabe o que faz, e faz muito bem feito.
Sintra
Já falei de Sintra em uma das primeiras postagens, mas falo de novo. É uma cidade simplesmente deslumbrante, com três dos mais belos Castelos que já visitei, uma vista espantosa do alto da montanha/fortaleza para o Oceano Atlantico lá embaixo, e ainda com a Quinta da Regaleira, uma construção neo gótica manuelina cheia de histórias e mistérios cabalísticos judaicos e maçônicos. Sintra é uma jóia da riqueza da história de Portugal e é um passeio imperdível, de um dia inteiro (com muito o que se ver). além disso, estando em Portugal, tem uma gastronomia deliciosa, com bons restaurantes e docerias (os mais famoso travesseiros da periquita --- isso mesmo :) ---- são de lá). De trem, partindo da estação do Rossio em Lisboa, são 45 minutos.
Essas são minhas pequenas notáveis eleitas, mas há muitas outras jóias de que não falei, e muitas ainda (se Deus quiser) por descobrir. Conte-me você também sobre suas descobertas!
Beijos,
Até a próxima.
Mimi.
Para fotos - @emmeioatudoisso